INICIATIVA CAMINANTE, desde 2019
A Iniciativa Caminante surge a partir do desejo em comum das artistas Eduarda Fernandes e Nayara de Salles de usufruir do potencial criativo da arte, mais especificamente da linguagem teatral e audiovisual, como ferramentas de ensino para o desenvolvimento integral de crianças e jovens da educação básica. Falar de teatro e audiovisual no ambiente educacional é reconhecer a importância de proporcionar às crianças e adolescentes práticas que colaborem para o entendimento de aspectos essenciais da condição humana, e que vão além do que é ofertado pelo ensino regular.
Nesse sentido, nosso principal objetivo é mostrar para os(as) nossos(as) alunos(as) a importância da aceitação e do posicionamento ativo na construção de qualquer processo, seja ele artístico, interpessoal, profissional ou de outra natureza. Acreditamos que a Caminante é capaz de proporcionar maior intimidade entre o(a) aluno(a) e suas capacidades emocionais, sociais, intelectuais e físicas. Sob essa perspectiva, a arte aparece não como um objeto de estudo, mas como intermédio na estruturação da ética — enquanto ser e estar no mundo — de um indivíduo.
Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Antonio Machado
A Iniciativa Caminante propõe a inserção da criança ou do(a) jovem em um contexto em que se compreenda a importância do tempo de maturação de um processo criativo, tendo ciência de todas as suas complexidades. Ao mesmo tempo, reforça a importância que esses aprendizados excedam o limite das aulas e sejam projetados para a vida cotidiana, transformando-a.
A função social da escola é algo muito discutido e problematizado no universo educacional. De fato, essa temática é ampla e complexa, uma vez que o próprio sistema em vigência — capitalista, neoliberal e baseado no pensamento mercadológico — é contraditório e tão criticado.
A escola, se não compreender o seu caráter revolucionário e não mercadológico (ela não deve negar o mercado, mas deve, sim, saber o lugar da educação neste contexto), acaba confundindo, esquecendo, ou realmente não sabendo o seu real papel na vida de seus alunos e alunas. Aqui, entendemos e intentamos que a educação tenha um caráter emancipatório, democrático e, acima de tudo, como diria Paulo Freire, político.
Na maioria das vezes, quando o cinema é objeto de estudo nas escolas da educação básica, o mesmo é analisado a partir do produto, ou seja, a partir de imagens já captadas, editadas e transpostas em uma estrutura fílmica que pouco revela de suas artesanias. Incorporada às práticas teatrais, propomos, então, utilizar a tecnologia digital de maneira intencional e sob uma perspectiva educativa, através do uso criativo e consciente das ferramentas audiovisuais.
A linguagem teatral, com sua expressiva versatilidade, objetiva que o(a) aluno(a) conceba o corpo como instrumento de trabalho, ao mesmo tempo em que o contato com o audiovisual apresente a imagem e o som enquanto signos da comunicação — e as implicações disso no dia a dia. Se o teatro se dá através do encontro, da presença e da materialidade corpórea, o audiovisual, por sua vez, eterniza o acontecimento e proporciona a criação de um território virtual periférico, e, por vezes, alheio à realidade.
¡Avante,
caminante!
Ter consciência da nocividade tecnológica não é recriminá-la.
“De um lado, o investimento no convívio como especificidade teatral, com a compreensão de que a zona de experiência (semiótica e não semiótica) fundada pela copresença dos corpos de espectadores e atores no mesmo cruzamento espaço-temporal faz do teatro um lugar de resiliência em relação à realidade social de relações altamente virtualizadas. [...] Do outro lado, o investimento na potência da geração tecnológica de imagens, que ampliam o território do visível e do imaginável, correspondentes aos modos de percepção vigentes no nosso tempo.”
Luciana Romagnolli
A live “O teatro no ensino remoto: impressões de 2021”, produzida pela Iniciativa Caminante, expõe os resultados de uma pesquisa realizada para investigar se as aulas de teatro ofertadas remotamente, por escolas regulares da educação básica, contemplam e viabilizam o desenvolvimento das competências e habilidades regulamentadas e garantidas pelos compêndios oficiais (BNCC, LDB/96, DCN), em crianças entre 5 e 12 anos, matriculadas em instituições da educação infantil e/ou ensino fundamental.
A pesquisa é exploratória, ou seja, não há hipóteses pré-elaboradas. O objetivo é compreender, de forma aprofundada, se as aulas de teatro online podem garantir, assim como pretendiam presencialmente, os direitos estudantis regulamentados e garantidos pelos compêndios oficiais citados.